A REPRESENTAÇÃO DAS MULHERES NA CULTURA VISUAL – PARTE 7

Já estou chegando aonde pretendia: nas relações entre o que se denomina por arte propriamente dita (aquela caracterizada como não reprodutível, aurática por excelência) e artes gráficas (industriais ou anônimas). Não vou aprofundar muito essa discussão do que é e o que não é arte, até porque ela se encontra (ou deveria encontrar-se) francamente superada nos dias de hoje, pós-duchampianos. O que interessa para nós aqui são os aspectos estéticos e poéticos que envolvem os signos predominantemente visuais produzidos pela nossa cultura e suas relações com o status social do gênero feminino e da representação do corpo-mulher.

Pois bem, por incrível que possa parecer, enquanto que no campo da arte (ou pelo menos no campo reconhecido pela história institucional da arte como arte) o pensamento ainda encontrava-se fundamentado numa visão burguesa humanista idealizante e conservadora, sentimentalista em suas piores manifestações, nas artes gráficas (sobretudo nas artes aplicadas a imprensa jornalística) encontraremos uma postura progressista, irreverente e libertadora, onde a mulher (claro, ainda não qualquer mulher e não sem pagar um certo preço) pode encontrar espaço e expressar suas ideias. No final do século XIX, à grosso modo, as atividades artísticas consideradas como parte da alta cultura (entendam por alta cultura a arte defendida pela elite burguesa intelectual e acadêmica) envolviam-se com os dilemas pós-fotográficos: o simbolismo e o impressionismo anunciavam o fim da pintura como “janela”para o mundo “real” (e até o que seria esse real já entrava em discussão). O corpo feminino, majoritariamente tratado como objeto sensual, ou está ligado às propostas de representação da vida ao ar livre, em meio à luz natural, ou será expressão doentia dos delírios opiáticos ou sifilíticos masculinos:

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A origem do mundo, de Gustave Courbet (1866). Realista, Courbet retoma o tema Sheela na Gig. Mas ao reduzir origem e telos a uma genitália desprovida de identidade, ele desumaniza a mulher e o sexo.

Pierre-Auguste_Renoir_021 As banhistas, de Auguste Renoir (1887). Mulheres que ingenuamente se deixam observar pelo olhar voyeurista masculino. Brinquedos de homem.

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Salto mortal, de Alfred Kubin, 1902.  Simbolistas como ele abordaram o corpo feminino como fonte de desejo e culpa, de doença (psíquica ou física) e de morte. A mulher fatal assombra os artistas do estilo, em aparições inclusive verbais, como  na poesia de Charles Baudelaire. Tempos de Freud: histeria feminina e complexos edipianos na crista da onda.

E nas artes gráficas? Fica pra próxima.

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